Síndrome de Burnout: causas, consequências e tratamento 04/11/2022 - 17:18

As mulheres são as vítimas mais comuns da Síndrome de Burnout. A informação é uma das abordagens estudadas pela enfermeira do Instituto Federal do Paraná (IFPR) e doutoranda em Tecnologia em Saúde pela PUC/PR, Vania Carla Camargo. Segundo ela, isso aconteceu em especial neste pós-pandemia, particularmente se estas mulheres são mães e trabalham fora de casa.

Conforme pesquisa realizada por Gênero e Número e Sempreviva Organização Feminista (SOF), no começo da pandemia, a situação estava agravada e 50% das mulheres brasileiras havia passado a cuidar de alguém na pandemia. Entre os necessitados desses cuidados estavam crianças, idosos e pessoas com deficiência.

Algumas das razões para isso está no desequilíbrio entre as estruturas sociais e de gênero. Como resultado, existem “as mulheres com dupla jornada de trabalho – responsabilidades não remuneradas do cuidado com a casa, filhos, pais idosos, adicionadas as incumbências do trabalho fora de casa, pago – ficam em desigualdade competitiva e, por vezes, tem menos chance de serem promovidas, ganham menores salários, ficam em posições com menos autoridade podendo levar a maior estresse e sentimento de frustração”, explica.

Vania ressalta ainda que equilibrar esta balança nem sempre é possível e estas demandas desiguais no trabalho podem gerar estresse ocupacional. Isso acontece quando o indivíduo percebe as demandas do trabalho como estressoras, as quais, ao exceder sua habilidade de enfrentamento, provocam nele reações físicas, psíquicas e comportamentais. Isso pode levar à Síndrome de Burnout.

A Síndrome de Burnout, ou Síndrome do Esgotamento Profissional, é uma doença específica da área profissional, conforme a Classificação Internacional de Doenças. A Síndrome atinge, principalmente, profissionais que prestam cuidados e serviços ao público, como profissionais da educação, saúde, servidores públicos etc. Ela decorre principalmente da sobrecarga e do conflito pessoal com os colegas de trabalho.

“O desenvolvimento de Burnout é individual e pode levar anos ou décadas. O surgimento é paulatino, cumulativo. Não é percebido em sua fase inicial pelo indivíduo que recusa  acreditar que está acontecendo algo de errado com ele”, esclarece Vania.

Conforme ela, existem quatro níveis no Burnout. O primeiro acontece com a falta de vontade, de ânimo ou do prazer em trabalhar. Dores nas costas, pescoço e coluna fazem parte dos sinais. No nível dois, começa a deteriorar o relacionamento com os outros. Pode haver uma sensação de perseguição, aumento do absenteísmo (faltas ao trabalho) e a rotatividade de setores ou empregos.

O terceiro nível apresenta a diminuição notável da capacidade ocupacional, apresentação de doenças psicossomáticas como alergias, psoríase, picos de hipertensão, automedicação (efeito placebo) com doses cada vez maiores. Há também o aumento do uso de substâncias nocivas. Por fim, no nível quatro, temos a forma mais agressiva, caracterizada por alcoolismo, drogadição, ideias e tentativas de suicídio. E  pode também surgir doenças mais graves, como acidentes cardiovasculares.

SINTOMAS - Segundo Vania, os sintomas abrangem a parte física, psíquica, comportamental e defensiva. Dentre os sintomas físicos que devem ser observados estão a sensação de fadiga progressiva e constante, os distúrbios do sono, dores musculares ou ósseas, dores de cabeça, perturbações gastrointestinais, imunodeficiência (referente ao sistema imunológico), transtornos cardiovasculares, respiratórios, disfunções sexuais e alterações menstruais.

Já nos sintomas psíquicos temos a falta de atenção e concentração, alterações de memória, lentidão do pensamento, sentimentos de alienação, solidão e de impotência, impaciência, instabilidade emocional, dificuldade de autoaceitação, baixa autoestima, astenia (diminuição da força física), desânimo, depressão, desconfiança e paranoia.

No que diz respeito aos sintomas comportamentais, os mais comuns são a agressividade, incapacidade em relaxar, dificuldade em aceitar mudanças, perda de iniciativa, aumento do consumo de substâncias (álcool, drogas, remédios etc), comportamento de alto risco, aumento da probabilidade de suicídio. E o sintoma defensivo é a tendência ao isolamento, perda do interesse pelo trabalho ou pelo lazer e insônia.

PREVENÇÃO - “Antes de pensar nas ações que a mulher pode fazer para o autocuidado com intuito de prevenir o desenvolvimento da Síndrome de Burnout, é importante apontar onde o foco deve estar: na cultura organizacional saudável da empresa, seja ela pública ou privada”, informa Vania.

A cultura organizacional é um conjunto de hábitos, crenças, valores e comportamentos compartilhados na empresa. Ela estabelece as políticas internas, processos de trabalho e objetivos coletivos, cria entre os colaboradores os mesmos ideais, valores e princípios.

Vania elucida ainda que quando a cultura organizacional é tóxica produz um clima negativo e potencialmente doentio. “Como exemplo de comportamentos e hábitos tóxicos desta cultura, podemos citar: estímulo de competitividade excessiva entre os funcionários, estabelecimento de metas individuais quase inalcançáveis, promoção de desigualdades, inatividade no combate a situações de racismo, machismo, sexismo, misoginia, entre outros. Isto pode provocar um grande estresse entre os colaboradores, em especial, às mulheres, maiores vítimas de uma cultura organizacional doentia.”

A enfermeira aponta que é possível prevenir que o ambiente laboral seja um canteiro de doenças mentais. “Algumas ações seriam a cultura de transparência entre todos, restrições à exploração do desempenho individual, diminuição da intensidade de trabalho, diminuição da competitividade, busca de metas coletivas que incluam o bem-estar de cada um, estímulo à formação de grupos de apoio entre pares, feedback regular aos colaboradores, abordagem baseada na comunidade no ambiente de trabalho, promoção de justiça e igualdade de oportunidades.”

Para a prevenção do Burnout em si, Vania diz que é necessário investir na formação em resolução de problemas, assertividade e gestão do tempo de maneira eficaz. “Busque apoio dos colegas e supervisores, melhorando suas capacidades e obtendo novas informações e apoio emocional. Melhore sua autopercepção conhecendo como sua mente e corpo reagem diante das situações do dia a dia. Preste atenção nas suas emoções e sentimentos. Observe como seus ciclos hormonais interferem neles (exemplo: quando na TPM, menstruação, ovulação, gravidez, puerpério, amamentação, menopausa etc).”

TRATAMENTO - O psiquiatra e o psicólogo são os profissionais de saúde indicados para identificar o problema e orientar a melhor forma do tratamento, conforme cada caso. Para quem já tem o diagnóstico do Burnout, segundo o Ministério da Saúde, é indicado realizar técnicas de relaxamento, ter alimentação adequada, exercícios físicos regulares, lazer e diversão. Também é importante ter o sono apropriado às necessidade individuais, fazer terapia e tomar medicação, se necessário, sob supervisão médica.

O tratamento da Síndrome de Burnout é feito basicamente com psicoterapia, mas também pode envolver medicamentos (antidepressivos e/ou ansiolíticos), mudanças nas condições de trabalho e, principalmente, mudanças nos hábitos e estilos de vida. O tratamento, normalmente, surte efeito entre um e três meses, mas pode perdurar por mais tempo, conforme cada caso.

No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), está apta a oferecer, de forma integral e gratuita, todo tratamento, desde o diagnóstico até o tratamento medicamentoso. Clique aqui e encontre a unidade no Paraná mais próxima de você.